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UM JARDIM SAGRADO ATRÁS DA PORTA ESTREITA

  • Foto do escritor: Movimento Shalom A.M
    Movimento Shalom A.M
  • 5 de fev. de 2021
  • 4 min de leitura

- Werbert Cirilo Gonçalves, 2009.


No momento em que as seis badaladas do sino quebravam o silêncio do templo sagrado, velado por profetas de pedra, nos preparávamos para atravessar aquela assombrosa porta estreita. Nossas costas carregavam bagagens pesadas de tantas quinquilharias que havíamos ajuntado ao longo da história. Atrás da porta uma sala eucarística com uma enorme mesa onde todos tinham lugar importante e que éramos convidados a nos assentar e cear. Havia muita música e o banquete era farto. Algumas pessoas tomavam as nossas bagagens e nos conduziam em direção à outra porta ainda mais estreita, mas que não levava a nenhuma sala, nem mesmo a um quarto. Este foi meu assombro, do outro lado da porta havia uma estrada e um dizer: ‘Aqui começa a sua Jornada. É necessário caminhar atento a todas as maravilhosas coisas que estão no caminho’. Era noite quando comecei a caminhar. Não via nada pelo caminho apenas a minha história projetada na escuridão como vaga-lumes a me recontar num filme tudo o que eu havia vivido. No entanto, era difícil caminhar naquela penumbra. Neste momento divinamente bendito, um ser que parecia, mas que não era um anjo se lançou na minha frente a tomar-me pela mão me fazendo correr como um louco sem rumo. Reparei que este ser não tinha olhos como os meus, então antes que meu preconceito lhe perguntasse sobre suas possibilidades em me conduzir, seu sorriso e graça perturbaram minha mente que se abriu e entendeu que ali não se enxergava com aqueles olhos senão com o coração. Quando o filme da vida acabou era dia e, espantosamente, meus olhos espirituais observaram que passei a noite a caminhar em torno de uma fonte por um jardim secreto repleto de fantasias. Acampei-me ali mesmo e comecei a conviver com diversas pessoas vindas dos quatro cantos da terra desejosos de serem meus amigos. O jardim era maravilhoso e eu me encantava com cada gesto afetuoso que as pessoas, que lá estavam comigo, me ofertavam. Todavia, depois de ter andado tanto, estava com sede. Uma mulher samaritana que voltava de um lugar chamado poço de Jacó me ofereceu um pouco de água. E disse que se eu tomasse da água da fonte do Jardim não voltaria mais a ter sede e desta forma, eu poderia continuar minha caminhada sem me cansar ou precisar de outro alimento a não ser um pão que cairia mais tarde do céu como o maná no deserto. Continuei assim tranquilo e sensivelmente tocado por uma paz desconhecida. Resolvi então caminhar com os outros pelo Jardim. Uma moça linda nos acompanhava. Eu me apaixonei por ela e queria estar próximo, pois sua presença me fazia amá-la mais. Seu sorriso era como o brilho de uma estrela que guiava meus passos e iluminava a escuridão do meu ser. Essa linda moça nos revelou que tinha um filho, um jovem que estava na casa de seu Pai, mas que em breve voltaria para o seu lar. Na verdade, todos já haviam ouvido falar a respeito do seu filho e o motivo de estarmos ali era encontrá-lo. O jovem chegou. Era diferente de tudo que esperávamos que fosse. Não era tão sério como nos quadros dos grandes artistas e seu comportamento era diferente do que os cientistas disseram e escreveram. Ele era assim um jovem como eu, mas tinha coragem de aproximar de todos os mundos e culturas. Convidou-me para caminhar com ele. Notei que ele se preocupava com todos, todavia estava atento principalmente aos mais afastados e aos que estavam escondidos em algum canto do jardim ou mesmo entre as pedras. Isso me fez perceber que ele gostava de estar com as pessoas com as quais ninguém queria estar. Queria estar com os últimos e com os mais simples, doentes, pobres, etc. E fiquei pensando: por que ele é assim? Por que escolhe estas pessoas? Sua resposta foi o amor e a atenção que me dedicou. Isso me fez pensar que eu não era tão bom quanto ele. E antes que a angústia tomasse conta do meu coração Ele me fez sentir o ser mais amado por Deus. Falou-me sobre seu Pai que também se preocupava com os menores, mas que amava a todos e que tinha um único sonho para cada ser humano: a felicidade. E disse que todas as coisas contingentes da existência humana não eram maiores do que o amor do seu Pai. Fiquei com esse jovem três dias como um discípulo trilhando uma jornada que ao mesmo tempo era uma escola de vida. Uma escola que se fazia repleta de amor e fraternidade. Ele me santificou e me fez ser amigo de todos. Assim, me falou que somos irmãos, uma vez que nossa fraternidade se fundamenta no divino amor do Pai e, que imersos nesse verdadeiro amor, nossa amizade se tornava eterna. Permaneci irradiante ao saber que tudo o que estava vivendo ali duraria para sempre, pois toda paz que tocou meu espírito naqueles dias vinha da parte de Deus. No último dia, dormia em paz e ao longe ouvia uma música suave tocada com instrumentos divinos e cantada por querubins que por alguns instantes eram autorizados a sair do céu para fazer uma linda serenata para todos que estavam no encantado jardim. No quarto dia, após a minha ressurreição, uma pomba surgiu, tomou uma rosa no bico e me ofereceu. E das nuvens ouviu-se uma voz: - “Ao mundo leve sorrindo o amor agradável ao espírito”. E esta mesma voz me vocacionava a ser uma testemunha do amor divino que experimentei no jardim secreto atrás de uma porta estreita.







 
 
 

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