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Jesus como modelo de ser humano

  • Werbert Cirilo Gonçalves
  • 10 de jan. de 2018
  • 5 min de leitura

Texto retirado do livro: "MOVIMENTO SHALOM: um jardim sagrado atrás da porta estreita" escrito pelo shalonita Werbert Cirilo Gonçalves, 2018.

Jesus Cristo é modelo de humanidade! Este é um dos enunciados fundamentais da antropologia teológica, disciplina que reflete sobre o ser humano à luz da Revelação Divina. Qualquer ser humano que desejar cumprir fielmente seu natural “sentido” (desígnio ou fim) necessita ser aquilo que o Homem-Deus foi na história: verdadeiro ser humano, completo, único e realizado.

O modelo de ser humano é o Deus encarnado, Jesus Cristo, que é para o cristão o arquétipo de humanidade a ser seguido. Por isso, quando dizemos que somos cristãos expressamos, mesmo que inconscientes, a ousada missão em ser aquilo que o Cristo foi na história. Não queremos aqui dizer que devemos ser deuses, mas a partir da autenticidade da vida de Cristo, descobrir a verdade do que somos e o caminho que nos leva à realização humana.

A plenitude da vida do Emanuel (Deus-conosco) é o ensinamento primordial. Nesse sentido, toda a existência de Jesus, presente entre nós num diálogo digno de transformação, é história de salvação, pois toda sua vida aponta para uma tarefa à qual todo homem deve se propor: buscar o que o torna feliz e viver o que há de mais verdadeiro na sua existência em conformidade com a vida de Cristo. Assim sendo, é chamado a tornar-se homem novo a partir do encontro inspirador e no seguimento a Jesus Cristo, “o ser mais humano na história” e o “ser mais divino no mundo”.

E se queremos nos encontrar realmente com Jesus, haveremos de ir à Sagrada Escritura para descobrir o seu rosto através de suas ações. E assim, nos capítulos dos Evangelhos nos encantaremos com um Deus que aos odiados do mundo se faz amor, aos doentes se faz cura, aos excluídos se faz acolhida, aos pecadores se faz perdão e à vida de todos esses... se faz presença.

Afinal, todos os encontros de Jesus são encantadores. Por exemplo, como é fascinante, na montanha (Mt 5), a saudação de Jesus aos pobres em espírito, aflitos e mansos, famintos e injustiçados, misericordiosos e puros de coração, promovedores da paz, perseguidos, insultados e caluniados. A todos, Jesus anuncia a felicidade e a conquista do Reino. Do mesmo modo, é ainda mais deslumbrante quando Ele sentado na montanha se dirige à multidão chamando-a de sal da terra e luz do mundo. Essas palavras que promovem os excluídos e conscientiza-os de sua dignidade, tornam-se um convite à multidão a testemunhar o Reino com boas obras e a iluminar, com a luz do amor, o coração dos outros homens a fim de levá-los a glorificar o Pai que está no céu. Jesus assim se faz esperança e libertação para os pobres, necessitados e marginalizados.

Encantamo-nos também quando nos deparamos com um Jesus sensível às necessidades do povo: com o olhar cheio de compaixão que lança à multidão faminta que, a partir do característico sinal da multiplicação dos pães, a alimenta (Jo 6). E sua sensibilidade de significar e aprender a grandiosidade dos gestos simples como quando a mulher pecadora lava os seus pés e enxuga-os com seus cabelos diante dos discípulos (Lc 7). Enquanto todos estão preocupados com a ousadia da pecadora em se aproximar e lavar os pés de Jesus, Ele permite que a riqueza do gesto da mulher se torne um pedido sincero de perdão e busca pela misericórdia de Deus. Do mesmo modo, é belo o gesto de Jesus em tomar a toalha e a bacia, se abaixar e lavar os pés dos discípulos na ceia (Jo 13). Gesto rico em simbolismo que não expressa simplesmente a atitude humilde do divino homem que nos revela uma humanidade desprovida de preconceitos e se faz servo de todos, senão quer proclamar a pertença a Ele por meio da passagem pelas águas, que purificam e nos tornam irmãos em Cristo.

E não é só a vida, mas até mesmo a morte de Jesus torna-se para o cristão exemplo de atitude diante dos sofrimentos: os dramas da contingência humana são amparados pela fidelidade de Jesus ao projeto de salvação do Pai. Um ser que fez da morte uma celebração da vida. Não por acaso que o sentido da sua paixão está nas suas palavras sagradas proferidas num banquete de páscoa entre amigos (Mc 14).

Deste modo, todas as atitudes do mestre devem inspirar o cristão de hoje e do futuro a ser no mundo aquilo que o Deus encarnado foi autenticamente na história. Somente inspirando-se na vida de Jesus poderemos construir e alcançar o Reino anunciado por Ele. Assim, haveremos de fazer da nossa vida uma mensagem do Cristo.

Contudo, cabe ao homem não imitar o Cristo como uma réplica, mas se inspirar nos seus atos para que o amor surja no seu tempo e na sua história. De tal modo, haveremos de levar ao mundo o amor aos que não são amados, o perdão aos que estão machucados pelo ódio, ousar dar o abraço aos que precisam ser abraçados, servir os pequenos, lutar pelos sofredores, promover as diversas pessoas em situação de rua e as crianças e adolescentes vítimas do trabalho infantil e das explorações sexuais, aproximar-nos dos diversos mundos como os das mulheres marginalizadas e do complicado mundo dos viciados, lutar em prol dos que passam fome e dos que não têm oportunidades, voltar o nosso olhar para os desempregados e para os que mendigam subempregos, derrubar dos tronos os que se preocupam com a construção do seu próprio reinado, curar os doentes e enfermos no coração e no espírito, profetizar diante das falsas autoridades do templo e da política, amar os excluídos e alimentar os famintos de justiça e paz.

Por conseguinte, tal como no ambiente evangélico, poderemos ainda reconhecê-Lo indo à comunidade de fé ou aos recantos da sociedade onde estão os mais necessitados de caridade (amor); ambiente necessariamente humano que, como naquele tempo, torna-se espaço da manifestação da sua divindade quando o cristão se faz salvação.

Enfim, um alerta: é necessário que o ser humano nunca deixe que a trave da superficialidade dos objetos frívolos de consumo, da riqueza exacerbada e dos ídolos do poder opressor, entre nos seus olhos e o atrapalhe ver a beleza da vida que está na simplicidade e na caridade. E que essa mesma trave nunca impossibilite o homem de enxergar o encanto de sua essência e existência, pessoa amada desde o início e amparada por Deus.

E, inspirados na reflexão do filósofo e teólogo jesuíta, Padre Henrique Claudio de Lima Vaz, reconhecemos que diante da banalização da vida, dos desafios econômicos e de poucas e frias relações humanas cada vez mais se imporá aos homens a busca pelo sentido. As pessoas do futuro talvez se perguntem com mais insistência onde nos afastamos do verdadeiro significado de ser humano. E, muito provável, toda a humanidade sentirá no mais profundo do ser um vazio que clamará por uma resposta precisa sobre a sua existência. Essa mesma humanidade buscará incessantemente um sentido que encante a mente, o espírito e, sobretudo, o coração. E certamente, o verdadeiro cristão encontrará no interior da comunidade o Cristo que é modelo e sentido para a vida.


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