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À ESPERA DE UM TAL MESSIAS

  • Werbert Cirilo Gonçalves
  • 17 de set. de 2018
  • 3 min de leitura

O mito do herói é comum em muitas civilizações e está presente no imaginário de outros tantos povos e culturas, como sinalizaram importantes nomes como Carl Jung (psicoterapeuta) e Joseph Campbell (mitologista). Diante do cenário político atual e de tantas crises que enfrentamos, muitos colocam a sua esperança no surgimento de um herói, compreendido como um resgatador: um messias. Ao ser provocado, por um cristão, de que o Brasil precisa urgentemente de um tal resgatador messiânico, resolvi responder propondo uma reflexão com poucas palavras.

Todos sabemos que a comunidade Judaica da época de Jesus esperava um resgatador, que em grego se diz Χριστός (“Christos”, o “ungido”) ou também entendido como redentor, ou em hebraico: o Go’el HaDahm (“o vingador de sangue”). Porém, muitos de nós desconhecemos o fato de que os grupos dos judeus (ou partidos judaicos) tinham expectativas e interpretações diferentes sobre qual tipo de messias surgiria: esperavam o davídico, o apocalíptico, o sacerdotal, o régio, o escatológico, etc. Alguns judeus acreditavam piamente nas doutrinações e pensavam num messias triunfalista ou num messias guerrilheiro que faria justiça e acabaria com o poder opressor de Roma, a tirania política, que Ele destruiria os inimigos da religião e, com a espada, lideraria o povo para exterminar tudo o que havia de mal na sociedade judaica. Os zelotas e os Iscariotes, por exemplo, eram grupos que pregavam a luta armada e o uso da violência como resposta a toda forma de injustiça. Além destes, também os escribas e os fariseus, aqueles que queriam apedrejar a mulher adúltera (Jo 8), reconhecidos por seu moralismo e absolutismo (donos da verdade).

Frustrando todas estas expectativas ideológicas, veio um tal Jesus que disse: “Amai o próximo” (Jo 13, 34), a lógica não é “olho por olho e dente por dente” (Mt 5, 38) e, depois, “Amai também os vossos inimigos” (Mt 5, 44). Não teve outra..., primeiro a decepção. Depois lhe perguntaram: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?”... Mais tarde, alguém o traiu decepcionado com o “Messias amoroso” (mas, que também foi profeta). Este andou em vilas e cidades de Israel revelando um rosto misericordioso do Pai, comprometido com os excluídos, que perdoou a adúltera (Jo 8), que tocou a impura (Lc 8), que curou no sábado (diferente do que dizia a doutrina religiosa) (Mt 12), que se encontrou sozinho com mulheres numa sociedade centrada no homem (Jo 4), que acolheu o bandido na cruz e no céu (Lc 23, 43), que disse de um “bom samaritano” (modelo de amor humano) que era de um grupo religioso diferente dos judeus (Lc 10), que foi à casa e que chamou para o discipulado cobradores de impostos (Zaqueu e Mateus tão odiados pela sociedade – corruptos) (Lc 19 e Mt 9), que recusou as riquezas e o reino do tentador (Mt 4), que sugeriu ao jovem rico não a prosperidade dos bens materiais senão a partilha (Mt 19), que bebia vinho com os discípulos chamados de beberrões (Mt 11), que curou a filha de um oficial romano (colonizador) (Lc 7), que rechaçou o uso de arma de Pedro ao cortar o soldado que o prenderia (Jo 18).... e amou muito a humanidade não apenas eu e você, senão até mesmo os seus assassinos (Lc 23).

Enfim, este messias do Evangelho é a Esperança Cristã para o nosso tempo. E Ele já está entre nós, em cada cristão e como cada cristão. Como fez com as Primeiras Comunidades, o Espírito Divino continua a inspirar homens e mulheres na tarefa de ser no mundo um outro Cristo. Portanto, não precisamos esperar um messias, precisamos sê-lo, assumindo o nosso “ser cristão”, outro Cristo; andando por nossas cidades sendo aquilo que Jesus foi nos seus encontros em Israel. E, assim, esperançar os corações de todos, encher a nossa realidade de amor fraterno e, através da , assumir uma autêntica vida ética e reconhecer que todas as coisas podem ser renovadas a partir do nosso testemunho. E que não nos esqueçamos que se tivermos coragem venceremos as aflições e separações entre nós (Jo 16) e que, como discípulos, devemos seguir o exemplo do verdadeiro “Messias da Comunidade Cristã” e ser no mundo a diferença. E, aí, coragem!

Werbert Cirilo

Teólogo Leigo


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